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Um café de consolação

A maioria das pessoas que trabalham no aeroporto são mal humorados. Completamente diferente o que encontra normalmente com o povo português. Os piores são da alfândega. Não olham para ti e só dão ordens, de resto não falam.

Esqueci de tirar o meu portátil da mala

O, perdão. Ainda é muito cedo, não estava a prestar atenção.

Imediatamente es tratado como um leproso ou potencialmente um terrorista. Eles pedem-me para sair da fila. Claro. Desculpe. Sou apenas um cidadão com boas intenções, mas quero levar o meu casaco. Como o meu telemóvel e carteira estão lá dentro e por isso não quero deixá-los. O tabuleiro com as minhas coisas sai agora.

O guarda bate contra mim quando vou pegar nas minhas coisas. Ela afasta-me e da-me algumas ordens sem olhar para trás. Como se ela disse ela tem o poder aqui.

Não faz mal, nada vai arruinar este dia, apesar de ter sono. Tenho as minhas coisas e vou ter com o outro aduaneiro. Tenho que abrir a mala e tirar o portátil.

Fico curiosa, o que será que poderia fazer. Coisas que não sei. Claro que já vi pessoas com bombas, terroristas, nas séries americanas – não sei se são reais, não faz parte do meu dia a dia.

Tira os sapatos. Mais uma vez pelo detetor. A minha mala passa pelo scanner outra vez, o portátil também, mas separados. Tudo tem que esperar. Encosta-te ao transportador, faz favor, pernas afastadas. Tenho uma aparência tão perigosa? Uma cara de fanático?

Como é que decidem quem tirar da fila?

Na série (Madam Secretary, é uma boa série) era uma rapariga que tinha a bomba, ela era alta e loira e ia para uma conferência internacional. A frente dela ia uma mulher muçulmana-com-hajib, e depois desta mulher passar os guardas relaxaram um pouco. Uma loira nunca faz mal a ninguém, parece ser a ideia.

Também sou loira, e alta, por isso porque foram atrás de mim? Até agora isto nunca me aconteceu.

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Eles não encontram nada e perdem interesse bastante rapidamente. Eles vão se embora a procura da sua próxima vítima.

Sinto-me como uma galinha que foi atacado inesperadamente por um galo. E como essa galinha, gostaria de sentar em um canto amuando.

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Pronto. Tenho tudo? Novamente completamente vestido, o portátil na mala, o casaco com o telefone, carteira … onde está a minha dignidade? Bem, foi um pouco reduzida …

Está sossegado no piso inferior. Encontro um sítio chamado  “First Class Coffee”.  Muito bem. Preciso de um café, especialmente um de cinco estrelas.
“Diga, menina” diz a rapariga forte atrás do balcão, numa voz amigável. Isto melhora a situação muito. Ela dá-me um café de primeira classe. Um café cheio de consolação.